Uma nova cultura da não-violência ativa e criativa para a paz

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Homilia de Ano Novo 2017

 

 

     Uma nova cultura da não-violência ativa e criativa para a paz

† António Marto

Catedral de Leiria, 1 de janeiro de 2017

Refª: CE2017B-001

 

“O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor volte para ti o seu olhar e te conceda a paz”: são as primeiras palavras que a liturgia nos faz ouvir neste primeiro dia do ano novo para que permaneçam impressas no nosso coração e as possamos repetir e transmitir aos amigos e inimigos ao longo de todo o ano. São a bênção da paz que hoje invocamos.

Neste dia celebramos uma efeméride digna de registo: o 50º aniversário do Dia Mundial da Paz, instituído pelo beato Paulo VI. Por esta ocasião, o Papa Francisco dirige-nos uma mensagem muito pertinente. Hoje estamos a assistir à exibição da violência cega, brutal e cruel nas mais variadas formas, ao longe ou à beira das nossas casas, como sendo o modo normal de resolver conflitos, atritos ou controvérsias.

Perante este cenário, o Papa alerta para a necessidade de uma cultura alternativa a violência. Propõe então a nova cultura da não-violência ativa e criativa como estilo de vida, de convivência e de uma política para a paz. “Nesta ocasião peço a Deus que nos ajude a todos a inspirar na não-violência os sentimentos e os valores pessoais mais profundos. Sejam a caridade e a não-violência a guiar o modo como nos tratamos uns aos outros nas relações interpessoais, sociais e internacionais. Quantos sabem resistir à tentação da vingança, podem ser os protagonistas mais credíveis de processos não violentos de construção da paz.  Desde o nível local e quotidiano até ao da ordem mundial, possa a não-violência tornar-se o estilo caraterístico das nossas decisões, das nossas relações e ações, da política em todas as suas formas”.

A cultura e as politicas de não violência devem começar a edificar-se, antes de mais, dentro do coração de cada um e no interior da família donde deve ser banida toda a violência doméstica que incrivelmente ainda hoje persiste.

Coração pacificado e reconciliado

O coração humano é o primeiro campo de batalha em que se defrontam a violência e a paz. Quem acolhe a Boa Nova de Jesus sabe reconhecer a violência que traz em si e deixa-se curar pela misericórdia de Deus: um coração purificado, liberto, curado de ódios, rancores, ressentimentos, de desejos de vingança e de domínio sobre o outro, da ambição do dinheiro a qualquer custo… Um coração pacificado e reconciliado para ser pacificador e reconciliador. De que precisa ser curado e libertado o coração de cada um?

 

A família, lugar e escola da não violência

“A família é o crisol indispensável no qual cônjuges, pais e filhos, irmãos e irmãs aprendem a comunicar e a cuidar uns dos outros desinteressadamente e onde os atritos, e mesmo os conflitos, devem ser superados não pela força, mas com o diálogo, o respeito, a busca do bem do outro, a misericórdia e o perdão. Do interior da família, a alegria do amor propaga-se pelo mundo e irradia para toda a sociedade”. Aí se aprende a ética da fraternidade. “Por isso, as políticas de não-violência devem começar dentro das paredes de casa para depois se difundirem por toda a família humana… Suplico pois com urgência que cessem a violência doméstica e os abusos sobre mulheres, crianças e idosos”. Há algum aspeto de agressividade ou violência a eliminar na minha família?

Testemunhas do poder da não-violência ativa e criativa

A não-violência não é sinónimo de resignação, demissão, capitulação, passividade ou neutralidade perante o mal e a injustiça. Nem se reduz a bons sentimentos. Implica criatividade de iniciativas, processos e estratégias positivas de promoção da paz e da justiça por métodos não violentos. Neste aspeto, o Papa aponta exemplos concretos de testemunhas da não-violência que com a sua perseverança e a sua fé souberam demonstrar como a força da paz é mais forte do que a da violência e da guerra. São elas Madre Teresa de Calcutá a favor dos mais pobres, Mahatma Gandhi na libertação da India, Luther King contra a discriminação racial, Leymah Gbowee e milhares de mulheres da Libéria que organizaram encontros de oração e de protesto não violento obtendo negociações para o fim da segunda guerra civil na Libéria. Todas estas pessoas são exemplo e desafio para nós, apelo à nossa criatividade: em quê e como?

Por fim, o Papa Francisco conclui a mensagem com o seguinte voto: “No ano de 2017 comprometamo-nos, com a oração e a ação, a tornar-nos pessoas que baniram do seu coração, das suas palavras e dos seus gestos a violência e a construir comunidades não violentas que cuidem da casa comum Nada é impossível se nos dirigimos a Deus na oração. Todos podem ser artesãos da paz”.  Nossa Senhora, Rainha da paz, nos acompanhe nesta missão, com a sua bênção, ao longo de todo o novo ano!

 

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