Preparar e viver o sacramento: A beleza e a alegria do Matrimónio

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Na aproximação à grande Festa das Famílias, propomos uma reflexão sobre a essência do sacramento do Matrimónio e a importância da preparação (remota, próxima e imediata)…

 

 

 

 

Depois de um biénio pastoral (2013-2015) dedicado à família como “comunidade de fé, de amor e de vida”, aproxima-se a celebração festiva da caminhada feita: a Festa das Famílias, que encherá o Parque da Cerca, na Marinha Grande, no dia 17 de maio.

A cerca de três semanas desse grande evento, para o qual D. António Marto convida todos os diocesanos, em particular as famílias cristãs, o jornal PRESENTE dedica as próximas edições à sua preparação, não apenas logística mas também temática.

Assim, na edição desta semana (23-04-2015), destaca-se o tema do sacramento do Matrimónio, apontando ao seu significado essencial e apresentando alguns dados para reflexão e formação. De modo particular, falamos da preparação dos noivos para este primeiro e fundamental passo na constituição de uma nova família.

 

Sociedade e Igreja

A realidade social alterou-se profundamente nas últimas duas décadas, como evidenciam estes quadros, a partir de dados do Instituto Nacional de Estatística.

2015-04-22 matrimomio quadro

Muitas leituras podem fazer-se, sendo as mais óbvias a atual redução para menos de metade do total de casamentos e a quebra para cerca de um quarto dos realizados pela Igreja Católica em 1995, quando eram mais do dobro dos civis e são agora quase metade. Por outro lado, duplicaram os divórcios de 1995 para 2005, para números que se mantêm em 2013. Isto quando a população residente pouco variou e o número de famílias clássicas até aumentou, também fruto da maior longevidade (e envelhecimento) da população.

Estes números são um desafio para a ação pastoral da Igreja, numa sociedade que continua a afirmar-se maioritariamente católica, mas onde esse facto parece não influenciar muito a sua vida social. Daí a aposta que tem sido feita na promoção da família, sobretudo pela defesa dos valores que lhe estão associados, tal como na formação cristã e na preparação para o Matrimónio. O último biénio na diocese de Leiria-Fátima é disso exemplo.

 

Sacramento

2015-04-22 matrimomio3Em matemática humana, um casamento poderia resumir-se ao 1+1=2. Mas o Matrimónio cristão vem baralhar as contas e definir que 1+1=1, passando os dois a ser “uma só carne”. Aliás, vem colocar Deus na equação, que passaria a ser 1+1+1=1. Isto sem que cada um deixe de ser o que é, na sua individualidade como pessoa. Uma conta difícil de esquematizar, portanto, e mais rica do que qualquer jogo de números possa representar.

Sacramento significa sinal e, no caso do Matrimónio, ele é-o do próprio Deus, que é amor na relação entre as pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Criados à sua imagem e semelhança, homem e mulher receberam esse dom de se unirem pelo amor que brota do próprio Criador. Com a revelação em Jesus Cristo, essa união (aliança) surge como sinal perfeito do seu amor à Igreja, como explica o Apóstolo Paulo. A partir deste exemplo da relação de Cristo como cabeça da Igreja que somos, o Matrimónio é sinal de Deus na relação e comunhão mútua entre o marido e a esposa, ambos membros do mesmo corpo.

Assim, para os cristãos, casar ou não pela Igreja, celebrar ou não o sacramento, não é uma questão de opção. É uma questão fundamental para assumir a vocação (chamamento) de Deus ao amor, a ser sinal do próprio amor de Deus, concretizado na união de vida entre os esposos, na sua frutificação pelo filhos e na construção da Igreja e da sociedade. É esse o segredo da “beleza e alegria” do Matrimónio, expressão que D. António Marto gosta de repetir e escolheu para título da sua carta pastoral para este biénio.

 

CPM e outras preparações…

2015-04-22 matrimomio cpm4O Centro de Preparação para o Matrimónio é um serviço da Igreja Católica, de base paroquial, aberto a crentes e não crentes, que tem como finalidade principal, segundo os seus estatutos, “a promoção de sessões de preparação de noivos para o matrimónio, através de uma pedagogia e metodologia próprias, baseadas na revisão de vida e no testemunho vivencial de casais católicos, assistidos por sacerdotes, e apoiados na reflexão e diálogo conjugais”.

Na Diocese de Leiria-Fátima é a única proposta consistente e organizada com esta finalidade. Atualmente, conta com 12 equipas, num total de 64 casais e 11 padres assistentes, em 60 das 75 paróquias, nas vigararias de Colmeias, Fátima, Leiria (4), Marinha Grande (2), Monte Real, Ourém (2) e Porto de Mós. Realizam cerca de uma dúzia de encontros anuais, por onde passam cerca de metade dos que se casam nesta diocese (230 pares no ano pastoral de 2013/2014).

Algumas vigararias e paróquias onde não existe CPM enviam os seus noivos aos encontros vizinhos. Noutras, é o pároco ou uma equipa local a fazer essa preparação imediata, de forma mais ou menos estruturada. A nível nacional, há um método desenvolvido pelos Jesuítas e outro pelo movimento Encontro Matrimonial, este com algumas sessões realizadas em Fátima, onde participam esporadicamente alguns casais diocesanos, segundo nos informou o padre Orlandino Bom, ligado a este movimento eclesial. Nalgumas dioceses, os bispos criaram equipas e esquemas próprios para esta finalidade.

 

Casal de CPM fala do seu trabalho e expectativas

“É urgente apostar na preparação próxima”

2015-04-22 matrimomio cpm1O casal Célia Morouço e Paulo Henriques já passou pela função de responsável diocesano do Centro de Preparação para o Matrimónio (CPM). Ambos com cerca de 40 anos de idade, ela é natural de Leiria e ele da Figueira da Foz, casaram há 17 anos e vivem na Maceira com a filha de 16 anos. Não esquecem a experiência que fizeram no CPM um ano antes de casarem, sobretudo “o despertar e a oportunidade para conversar sobre assuntos importantes em que não tínhamos pensado antes”.

Foi essa “memória positiva” que os fez aceitar, há 10 anos, o convite da mesma equipa que acompanhou esses encontros, da vigararia da Marinha Grande. O desafio era, agora, serem eles a ajudar outros a prepararem-se para o casamento. “Também esta tem sido uma experiência muito positiva”, confessam em relação aos cerca de uma dezena de encontros que já ajudaram a orientar, pelos quais passaram mais de 250 pares de noivos.

O PRESENTE esteve à conversa com eles sobre esse trabalho e sobre os desafios que encontram nesta missão eclesial.

Antes de mais, o que é um CPM?

É um conjunto de encontros onde se promove a partilha entre os noivos e com a equipa, uma oportunidade para refletir em conjunto alguns dos temas essenciais para uma vida feliz em família. Por isso costumamos frisar que não se trata de um curso, pois não somos especialistas nem professores, apenas casais que testemunham a sua experiência e os valores cristãos em que acreditam e que procuram viver. Aliás, como o casamento é uma caminhada que se faz todos os dias, também nós nos preparamos e nos enriquecemos, pela revisão de vida em casal e em equipa e, também, pelas partilhas dos próprios noivos.

Que temas são esses?

Começamos por abordar o casal como “comunidade de amor” e depois o específico do sacramento do Matrimónio, a importância do diálogo e dos gestos de amor, a questão da fecundidade, as exigências típicas da nova situação que vão assumir e, claro, que é para sempre. São seis sessões em que a tónica comum é sublinhar que o casamento é um itinerário de amor para a vida, com as suas dificuldades, mas que se tornam mais fáceis de ultrapassar se houver amor e muito diálogo.

Os noivos não têm já essa noção?

Uns mais do que outros. Verificamos que muitos têm pouca experiência de diálogo. Falam muito durante o namoro, mas por vezes não chegaram a abordar assuntos essenciais. Encontramos pares que não sabem que o Matrimónio cristão é indissolúvel, é para toda a vida. Apesar de hoje em dia terem já mais consciência do ato que vão realizar, ainda há quem venha por tradição, para não desgostar os pais, ou para fazer uma festa bonita…

No final do encontro, mudam de ideias?

Diríamos que a maioria sim. Já houve situações-limite em que desistiram do casamento, mas o normal é saírem mais esclarecidos. A avaliação mais positiva que fazem é por terem tido oportunidade de conversar, de partilhar ideias, dificuldades e sonhos entre si e com outros.

E quanto aos valores cristãos?

Bom, poucos têm noções claras da Doutrina da Igreja sobre moral sexual, castidade, planeamento familiar… e a maioria tomou decisões a esse respeito. E nunca colocaram, por exemplo, a questão da educação religiosa dos filhos, embora assumam que pensam “mandá-los à catequese”.

Mas não é só isso… muitos nunca falaram sobre como vão gerir a casa e o dinheiro em comum. Isto apesar de ser recorrente mencionarem o receio da “crise” e da incerteza de estabilidade económica para se sustentarem e aos filhos. Ou sobre como vai ser a relação entre as famílias, com os pais e os sogros.

Mas haverá sinais de esperança…

Sem dúvida. Encontramos muitos casais abertos à mensagem da Igreja, ao desejo de constituir uma família para a vida e de fazerem frutificar o seu amor. Apesar dos números dizerem o contrário, a generalidade não coloca a questão do divórcio, por exemplo.

A Diocese dedicou os dois últimos anos à família. Sentem que algo mudou?

Ainda será cedo para avaliar. Houve mais ocasiões de formação e de sensibilização, o que resultará em consciências mais despertas. Em relação ao CPM, pouco mudou. Temos um ritmo muito intensivo num fim de semana, quando os encontros deveriam ser espaçados por meia dúzia de encontros. Mas são as contingências dos ritmos de trabalho e da disponibilidade das equipas e dos próprios noivos. Temos a noção de que semeamos, mas não sabemos quando colhemos… será sempre a longo prazo.

Quais os principais desafios para o futuro?

É urgente apostar na preparação próxima, isto é durante pelo menos um ano do namoro. Já fazemos um pouco a preparação remota, nas famílias e na catequese de infância, e a imediata, umas semanas antes do casamento. A Pastoral Familiar começa a propor algumas iniciativas para os namorados, mas deveria existir um itinerário mais aprofundado, com tempo e com exigência, para os que querem celebrar este sacramento em Igreja. Os noivos marcam a boda com muita antecedência e falam com os párocos… que os mandam para casa e regressar daí por um ano. É tempo que se perde e poderia ser aproveitado para formação e aproximação. Deveria ser uma preocupação dos bispos apresentar propostas nesse sentido.

Outro desafio é a adaptação dos nossos esquemas e linguagem às novas realidades. Mais de metade dos noivos já vivem em união de facto ou casados pelo civil, alguns já com filhos. Precisamos de uma resposta aos novos desafios que nos trazem, pois a maioria vem com abertura e desejo de integração. E a nossa postura, com clareza e verdade, tem de refletir acolhimento e amor.

 


 Testemunhos

“Partilha, reflexão e boa disposição”

2015-04-22 matrimomio cpm3Lembramos o nosso fim de semana de CPM com 3 palavras: partilha, reflexão e boa disposição.

Partilhámos as nossas pequenas vivências e fomos orientados a refletir sobre elas, ouvimos grandes histórias de vida e delas trouxemos grandes exemplos e ensinamentos de amor, entrega, companheirismo, respeito e perseverança, sempre, mas sempre, com um grande sentido de humor. E foi o que caracterizou esse fim de semana que trouxemos para o matrimónio: a partilha, o diálogo, a importância da comunicação entre o casal, dos seus momentos a dois, da relação com os filhos e do convívio com os outros, a capacidade para aceitar os contratempos e a determinação para os ultrapassar e a importância de rir – de rirmos de nós próprios, de rir um com o outro e um para o outro.

Mónica e Pedro, respetivamente com 39 e 41 anos e naturais das paróquias da Maceira e da Marinha Grande. Fizeram CPM em Porto de Mós e casaram em 2010, têm uma filha e estão a residir na Nazaré.

“Tornar os «para sempre» possíveis”

2015-04-22 matrimomio cpm2O CPM ajudou-nos a perceber que o Matrimónio é um sacramento, ou seja, um sinal visível do amor de Deus nas nossas vidas. Por isso, no dia do nosso Matrimónio, aceitamos ser sinal do amor de Deus um para o outro e para os que nos rodeiam. No CPM abordámos a importância do diálogo na vida de um casal para nos irmos descobrindo, compreendendo, perdoando, alimentando assim, dia após dia, o nosso amor.

Sendo o Matrimónio a vocação que Deus sonhou para nós, como casal devemos procurar ser sal da terra, luz do mundo para as nossas famílias, amigos, comunidade, na realidade para todos, conhecidos e desconhecidos. O CPM foi um exemplo prático do que é colocarmo-nos ao serviço. Ao reunir-nos com outros noivos, percebemos que apesar das nossas diferenças partilhamos dúvidas, receios e expectativas comuns. O facto de estarmos disponíveis para ouvir sem julgamentos e livres para partilhar as nossas experiências fez-nos sentir que somos mais, uns com os outros. Os casais ao disponibilizarem o seu tempo e ao partilharem as suas histórias, incluindo momentos difíceis das suas vidas a dois foram perfeitas testemunhas do que significa estar ao serviço e deram-nos forças e ferramentas para lutar sempre pelo nosso amor.

O CPM reforçou em nós o desejo de querer que Deus fizesse parte da nossa família, pois Ele é o ingrediente secreto para dar sabor as nossas vidas e tornar os “para sempre” possíveis.

Liliana e Nuno, respetivamente com 28 e 29 anos e naturais das paróquias do Carriço (Pombal) e de Leiria.Fizeram CPM em Leiria (Sé) e casaram no ano de 2014. Foram residir para Vila Nova de Gaia e estão a inserir-se na paróquia de Mafamude. 


 

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