Novo Caminho de Santiago procura homologação antes do Ano Santo

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O Caminho de Santiago é procurado por peregrinos e turistas do mundo inteiro. É assim há mil anos. Agora é moda e procuram-se novos itinerários. É o caso do Caminho da Geira Romana e dos Arrieiros, percorrido por um jornalista de Leiria, em maio, que conta a sua experiência ao PRESENTE.

 

 

 

Por Carlos Ferreira

Um dia perguntaram ao montanhista George Mallory por que queria escalar o Everest. Ele respondeu: “Porque ele está lá!”. A minha resposta quando me perguntam por que palmilho o Caminho de Santiago não é muito diferente, mas tem um objetivo pouco emblemático: esconder a minha incapacidade para explicar este mundo construído por peregrinos em mais de mil anos de história.

Em seis anos percorri igual número de itinerários no Caminho de Santiago (Central, Interior, Costa, Primitivo, Finisterra e da Geira Romana e dos Arrieiros, este ainda por homologar). À chuva, sob sol intenso, nos vales cavados a pique e nas serras talhadas pelo isolamento, nas aldeias que emergem de pequenos pontos no horizonte e nas grandes cidades históricas, frente-a-frente com um património extraordinário, sozinho ou com peregrinos do Porto… ou da Ásia, percorri mais de dois mil quilómetros.

Em todos os caminhos aprendi grandes lições de vida, vi um mundo diferente na palma das mãos a cada passo, mesmo quando o corpo pedia: “Nem mais um passo”! Houve quem me desse dormida uma hora depois de me conhecer. Houve quem partilhasse comigo a mesa de sua casa. E, sim, também houve momentos difíceis, mas quem subiu as estradas íngremes da Via da Prata, da Variante Espiritual ou da Ruta de los Hospitales, sabe que mais adiante há sempre uma Casa do César ou um Rincon del Peregrino.

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Uma das regras que mais respeito é a do “planeamento mínimo”. Ou seja, garanto as condições básicas de segurança e que não vou parar a Marrocos – e tudo o resto deixo entregue à natureza das coisas e das gentes. E por isso, de 14 a 22 de maio, descobri o Caminho Jacobeu da Geira Romana e dos Arrieiros (Braga a Santiago de Compostela), um dos mais belos itinerários que percorri.

Este caminho, que as associações Codeseda Viva e Caminho Jacobeu Minhoto Ribeiro esperam ver homologado, até ao Ano Santo de 2021, pelas autoridades políticas e jacobeias espanholas, recupera a trajetória dos portugueses e dos arrieiros (comerciantes do vinho O Ribeiro) com destino a Santiago. A estrada romana que ligava Braga a Astorga, os parques naturais do Gerês e do Xurés, os rios Lima e Minho, a dezena de estâncias termais, os corços e garranos, são apenas pinceladas numa tela emoldurada por  relevante património monumental e cultural, como é a Via Sacra de Beade.

É este itinerário que a Associação do Caminho Jacobeu Minhoto Ribeiro, presidida por Abdón Fernández, investiga desde 2009 em diferentes vertentes (da histórica à definição de um percurso o mais fiel possível). Em 2011, a Associação Codeseda Viva, dirigida por Carlos da Barreira, coadjuvado por Jorge Fernández, juntou-se ao projeto, fundamentado em documentação e vestígios históricos.

Este percurso ainda não está marcado com as famosas setas amarelas, nem possui albergues públicos, ao contrário dos restantes. A tarefa de o percorrer é, portanto, mais difícil. É obrigatório o recurso ao GPS, um planeamento mais rigoroso, há troços intransitáveis e outros que precisam de limpeza.

Estas dificuldades senti-as muito nas primeiras cinco das nove etapas em que dividi os 260 quilómetros do caminho. Mas, como sempre digo, o “planeamento mínimo” resultou e em Berán, Codeseda e Pontevea fui recebido de uma forma extraordinária pelos responsáveis das associações locais. É inexplicável o que sinto quando recordo as conversas de peregrinos e peregrinações na Eira Moura, em Codeseda, no Quinteiro, em Souto de Vea, na Albeitería ou na Casa Pernas, em Pontevea.

E, no fim do caminho, fui, afinal, o primeiro peregrino a percorrer sozinho esta nova via jacobeia – será a 10ª oficial se tudo correr bem. E, por isso, fui recebido pelo presidente da câmara de A Estrada, José López Campos; pelos diretor e vice-diretor da Academia Xacobea, Xesús Palmou e Enrique Otero; pelo investigador Luís Ferro, e pelo pároco de Codeseda, Rubén Diéguez. E dei uma entrevista ao jornal Faro de Vigo. Uma peregrinação irrepetível, como são todas, porque não há dois passos iguais.

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Peregrinos no caminho em 2016

  • 278 mil tradicionais (a pé, de bicicleta ou a cavalo)
  • 147 países representados
  • 153 mil (55,12%) têm entre 30 e 60 anos
  • 92% peregrinou com motivação religiosa (123 mil) ou religiosa e cultural (133 mil)
  • 58 mil (20,78%) estão empregados por conta de outrem, 50 mil (17,96%) são estudantes e 42 mil (15,03%) profissionais liberais
  • 52 mil fizeram o caminho português (18,76%), apenas atrás do francês (176 mil; 63,37%)
  • 124 mil (44,71%) são espanhóis
  • 13 mil (8,62%) são portugueses
  • 156 peregrinos (0,06%) partiram de Fátima (em Portugal, a esmagadora maioria começou no Porto e região norte)
  • 272 milhões de euros foi quanto gastaram em 2015
  • 4,3 milhões de receitas no caminho português
  • 1,2 milhões gastaram os portugueses

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