A vocação como prenda de amigo

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Estes dias chegou-me às mãos umas linhas escritas pelo Papa Francisco em que o tema vocação é tratado como linguagem de Jesus para amigos, ao jeito da prenda que se oferece e provoca a alegria. “Quero que saibais que o Senhor, quando pensa em alguém, no que gostaria de lhe dar de prenda, vê-o como seu amigo pessoal”.

E recuei um pouco no sacerdote que sou, como que procurando essa razão. Senti cada palavra e gostei do que fui lendo; cheguei a reler, como que querendo sentir a verdade de cada palavra do Papa, aplicada também a mim. Como se eu fosse pessoal normal, a quem Jesus também convidou para oferecer presente.

Mas: o pesos dos anos, a rotina dos gestos e jeitos, os importância dos ritos que se repetem mas que se podem esvaziar do seu significado, a frustração de algum momento ou desencontro, a dificuldade na assertividade da mensagem transmitida, as fragilidades da fraternidade, a perceção da pequenês das nossas capacidades… chega para nos arrefecer as memórias dos primeiros anos: os do “discernimento” (nunca gostei da palavra, mas também não me ocorre melhor), da decisão e da “efetivação” do compromisso ou da atitude.

Por isso este texto me abalou bem: senti que o que o Papa escreveu se me aplicou. Na origem do meu sacerdócio está muita alegria, muitas alegrias, muitas pessoas que surgiram por causa dos afazeres do Reino. E revejo-me no Santo padre ao escrever: o Pai do céu “decidiu presentear-te com uma graça, um carisma que te fará viver plenamente a tua vida transformando-te numa pessoa útil aos outros, em alguém que deixa uma marca na história (…). Não, porque o dom concedido seja um carisma extraordinário ou raro, mas porque é precisamente à tua medida, à medida de toda a tua vida”.
Um quarto de século depois: não me sinto perdido, enganado, desmotivado ou trapalhão. Momentaneamente posso sentir tudo isso, por ocasião do calor exacerbado de alguma situação, gesto, palavra ou encontro; mas não altera o DNA!

Por causa desta semana dos seminários, já estou a rever o padre que tenho sido e a oportunidade de o ser. Mas o Papa pôs-me a tónica em Jesus; não tanto na Igreja, na obediência, na nomeação… E isso foi uma boa ideia, que lhe agradeço. Estou a recordar que esse Jesus também me tem dado presentes.

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Captura de ecrã 2024-04-17, às 12.19.04

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