Contrastes nos caminhos para o Natal

Fazem-se almoços e jantares ditos “de natal”, quando ainda se está a caminho da festa, trocam-se presentes e repetem-se os votos de festas felizes.
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Na sociedade, antecipa-se muito o natal, compondo o cenário em que passamos a viver durante mais de um mês: acedem-se milhares e milhares de luzes, inauguram-se “cidades”, “vilas” e “aldeias” “de natal”, decoram-se e iluminam-se ruas e fachadas de edifícios, geram-se encanto nas crianças e elevadas expectativas de negócios nos comerciantes, estimulam-se os gestos de solidariedade fácil e cria-se a ilusão de que passamos todos a viver num mundo maravilhoso. Fazem-se almoços e jantares ditos “de natal”, quando ainda se está a caminho da festa, trocam-se presentes e repetem-se os votos de festas felizes. Assim se confunde e se funde a preparação com a festa, enchendo a vida e o coração de tantas coisas que amarfanham a espiritualidade e o essencial da vida.

De modo diferente, a liturgia da Igreja convida-nos a fazer um caminho de preparação para o Natal, a mergulhar no advento adotando um estilo de vida de moderação e entrando na intimidade do próprio coração para escutar a voz de Deus. Ressoaram, no passado domingo, os convites da palavra de Deus; “Vinde, caminhemos à luz do Senhor”, “vamos com alegria para a casa do Senhor”, “andemos dignamente, como em pleno dia, evitando comezainas e excessos de bebida, as devassidões e as libertinagens, as discórdias e os ciúmes…”, “estai preparados, porque à hora em que menos pensais, virá o Filho do Homem”.

A qual dos dois apelos vamos dar atenção? Ao de fora, da sociedade de consumo? Ou ao de dentro, do íntimo do coração, que convida a cultivar a espiritualidade e relações humanas autênticas, justas e fraternas com o nosso próximo? Corremos o risco, nós, fiéis cristãos, de misturarmos as duas coisas: ao domingo, quem vai à missa dominical ouve falar do caminho e da espiritualidade do advento e talvez até saia da igreja com algum propósito de ter alguma vivência nesse sentido. Chegando à rua, facilmente esquece o que ouviu, pois o ruído “natalício” sobrepõe-se ao rumor do advento. Os próprios cristãos enquanto responsáveis de grupos, empresas e instituições ocupam-se da celebração do seu natal em tempo de advento, esvaziando com festas e almoços ou jantares de natal o apelo à preparação e o esforço para o viver. Não seria de celebrar o Natal no tempo próprio que a Igreja lhe dedica?

Precisamos de despertar e cair na consciência de que não estamos a preparar seriamente o Natal, a avivar o desejo do encontro com Jesus. O materialismo da vida e as festas sociais esvaziam o nosso coração da verdadeira espiritualidade e da perceção dos sinais e apelos de Deus que nele ecoam. Num escrito sobre o advento, o padre José Frazão Correia, SJ, faz um apelo com o qual me identifico: “O apelo deste tempo de expectativa e de espera é tão vital. Não antecipemos o Natal em mil festas que celebram tão pouca coisa. Demos tempo ao tempo. Não o consumamos, consumindo-nos nele. Vivamo-lo como graça, como útero que concebe, gera e dá à luz. São quatro semanas, num ritmo crescente, em direção à luz, à alegria, ao canto; são quatro etapas para reaprender a estar atentos e a vigiar, que é o mesmo que dizer, a rezar. Paremos. Levantemos os olhos e a vida. Curemos a memória e o desejo. Recentremos o coração e façamo-lo bater ao ritmo de Deus. Porque o Senhor vem.”

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Captura de ecrã 2024-04-17, às 12.19.04

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