A viver o segundo casamento, “Deus tornou-se ainda mais forte nas nossas vidas”

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Nota: este texto foi retirado do Mensageiro em Rede, Boletim Paroquial de Monte Real e Souto da Carpalhosa, publicado em 2 de junho de 2019. Brevemente publicaremos uma entrevista ao casal Gastão e Rosália.

A Exortação Apostólica “A Alegria do Amor”, sobre o amor na família abre caminho para que aqueles que vivem um segundo casamento possam, depois de uma caminhada de discernimento acompanhado por alguém especializado, serem admitidos aos sacramentos. Note-se que este é o tema de apenas um dos capítulos da Exortação Apostólica.

Na diocese de Leiria-Fátima, há alguns casais a fazer esta caminhada de discernimento, tendo sido o casal Gastão e Rosália, das Várzeas, paróquia do Souto da Carpalhosa, o primeiro a completar o percurso proposto pela Nota Pastoral do bispo, D. António Marto: “O Senhor está perto de quem tem o coração ferido”.

A opção de fazer o percurso foi do casal, e a Igreja acolheu e acompanhou, a decisão final foi de ambos. A reintegração acontece. Cabe à comunidade continuar a acolher, percebendo que a comunhão em que participam não é “porque sim” ou opção unilateral, mas porque aconteceu um percurso de discernimento, em Igreja e, esgotadas as hipóteses de outros caminhos, se chegou a este, acreditando-se ser a vontade de Deus. Importa que outros casais se proponham, seja aconselhados, a fazer o percurso e, em Igreja, perscrutar a vontade de Deus. Naturalmente, na base de tudo está uma vontade e desejo firmes do casal de viverem uma vida de comunhão com Deus, não apenas em função da comunhão eucarística, mas como opção radical de vida em casal, em família.

Um testemunho de vida

Somos a Rosália Rodrigues e o Gastão Crespo. Estamos casados pelo civil há 10 anos e residimos na paróquia do Souto da Carpalhosa. Apesar de muitas vezes questionarmos a nossa integração na Igreja, a nossa participação na vida da comunidade foi uma constante, nomeadamente com a presença na Eucaristia dominical; com o Batismo e a catequese dos filhos. Nos últimos tempos, fomos convidados e aceitámos ser catequistas e fazer parte da comissão da igreja do Picoto. Fizemos o Percurso para Casais, Ela&Ele e, depois fomos convidados a colaborar na equipa de formação do Percurso Ela&Ele.

Conhecemo-nos em Santarém algum tempo depois do divórcio do Gastão. Após um namoro responsável e com plena consciência das consequências religiosas dessa união, decidimos casar civilmente, em 2009. Desta união nasceram três filhos: o Santiago, o Salvador e o Samuel. Para melhor nos darmos a conhecer, apresentamo-nos individualmente.

Eu sou a Rosália e desde muito jovem fui catequista e pertenci ao grupo coral da paróquia de Antime – Fafe. Quando conheci o Gastão, era solteira e sem filhos. Nessa altura residia em Santarém, onde trabalhava no Centro Social e Interparoquial, como Educadora Social, e era catequista e ministra extraordinária da comunhão.

Eu sou o Gastão, e desde muito jovem fui ativo na Igreja e na vida da paróquia do Souto da Carpalhosa, nomeadamente como catequista e orientador dos grupos de jovens. Casei pela Igreja em 1998 e dessa união tive um filho, o Simão. Ao fim de 8 anos divorciei-me, após esgotar todas as tentativas de reconciliação. Este processo foi acompanhado pelo sacerdote que nos casou. Importa realçar que este casamento foi feito de forma consciente e responsável pelos dois e, por isso, válido, pelo que não existe enquadramento para um processo de declaração de nulidade. Como pai acompanhei sempre o crescimento e a educação do meu filho Simão, nomeadamente a religiosa, mantendo uma relação cordial com a mãe.

Quando conhecemos a Nota Pastoral do senhor bispo, D. António Marto: “O Senhor está perto de quem tem o coração ferido”, sentimo-nos chamados a abraçar este percurso de discernimento da vontade de Deus. E em boa hora o agarrámos, pois permitiu-nos refletir sobre as nossas vidas; recordar o nosso passado e rezar à luz das propostas apresentadas pelo nosso orientador, o padre José Augusto Rodrigues.

Durante um semestre reunimos quinzenalmente, em média cerca de duas horas, seguindo o guião proposto e executando cada uma das cinco etapas de forma empenhada e dedicada. Ao longo desta caminhada sentimos muitas alegrias, mas também alguns desafios árduos que, com fé e esperança, conseguimos superar. Os dois retiros que fizemos permitiram-nos viver, de forma particularmente intensa, esta caminhada.

Terminado todo este magnífico percurso, sentimo-nos chamados à vocação matrimonial e a aproximarmo-nos ainda mais de Deus, mesmo não estando unidos pelo sacramento do Matrimónio. Estamos, agora preparados e em paz com Deus e acreditamos que é Sua vontade acedermos aos sacramentos da Reconciliação e da Comunhão.

Mais do que nunca, a fé em Deus Misericordioso transcende-nos e dá-nos força para continuarmos a participar de forma ativa e empenhada na vida da Igreja, procurando ser exemplo para os nossos filhos e para outros casais que vivem uma segunda união.

Ao longo desta jornada a presença de Deus tornou-se ainda mais forte nas nossas vidas e sentimos, mais do que nunca, o abraço Fraterno e Misericordioso de Deus, que apesar da nossa condição nos acolhe de braços abertos.

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