41 – Carolina Ribeiro, a mãe dos pobres

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Na sua obra “Toponímia de Leiria”, Alda Gonçalves escreve sucintamente o seguinte sobre Carolina Ferreira Pinto Ribeiro: «Nasceu em Leiria a 18-04-1888 e aqui faleceu em 29-12-1984, com 96 anos. // Irmã zelosa e dedicada da Ordem terceira de S. Francisco, desenvolveu [diversas iniciativas] em prol da assistência e da solidariedade social, à qual se dedicou de alma e coração e em que é de realçar a criação da chamada Roupa dos Pobres e o Saco de S. Francisco, obras que a levaram a ser conhecida como a mãe dos pobres.»

Apensa ao seu espólio, depositado no Arquivo Distrital de Leiria, pode ver-se igualmente uma nota biográfica, um pouco mais extensa, que vamos aqui utilizar em parte.

Era filha de Crisóstomo Augusto Ferreira e de Etelvina das Dores Pereira Ferreira. Orfã de mãe pouco tempo depois de ter nascido, passou a viver e a ser educada por seus tios, que não tinham filhos, Cândido Maria Dias, professor e secretário do Liceu Rodrigues Lobo, e sua mulher Carolina das Dores. De Cândido Maria Dias herdou vários documentos, do período da transição da Monarquia para a República.

Carolina tirou o curso de professora do ensino primário na Escola Normal de Benfica, em Lisboa, onde foi aluna do professor doutor Ângelo Ribeiro, com quem veio a casar. O Dr. Ângelo Pinto Ribeiro, tendo escolhido a carreira docente como percurso profissional, era professor na Escola Normal Primária de Benfica quando foi convidado como professor para a 1.ª Faculdade de Letras do Porto, onde esteve até ao seu encerramento, no final do ano lectivo de 1930-1931. Autor de vários livros e artigos de jornais e revistas, faleceu em Lisboa a 5 de Outubro de 1936.

Depois de ter ficado viúva, Carolina ainda exerceu a docência em Leiria, até cerca de 1950, pelo menos no Colégio Dr. Correia Mateus e na Escola da Faniqueira.

Passou depois a dedicar-se à beneficência. Durante vários anos, com a ajuda da Cáritas, fornecia alimentos, sobretudo leite, às crianças mais carenciadas e instituiu a chamada “Roupa dos pobres”, que era roupa de muito boa qualidade, que ela executava ou pedia para executar, angariando a ajuda de outras pessoas. Todos os anos essa roupa, bem como carrinhos para bebés, berços e camas, eram expostas publicamente, sobretudo no Turismo de Leiria, e depois doados às famílias mais carenciadas. Não tardou que se integrasse na Ordem Terceira de S. Francisco.

Ainda no âmbito da assistência, Carolina criou uma relação de interajuda com a “Obra de Rua” – Casa do Gaiato, do Padre Américo, conseguindo que fossem admitidas naquela instituição muitas dezenas de crianças abandonadas da região de Leiria.

Foi ainda fundadora da Colónia Balnear Infantil do Distrito, que todos os anos, em Peniche, proporcionava férias na praia a várias centenas de crianças. Conseguiu, para isso, ajuda do Governo Civil de Leiria e tinha também o apoio do Padre Filipe Tojal. Conhecemo-la nós nessa função, lá por 1964 ou 1965, e deixou-nos menos boas recordações, pois deu-nos com o chinelo no rabo numa tarde de sesta em que, na vez de dormir, a miudagem estava toda na galhofa dentro da camarata. Mas, na realidade, era uma jóia de pessoa.

Entre outras tarefas de apoio social, D. Carolina impulsionou a “Obra do Ovo”, destinada a levar aos tuberculosos o alimento forte e condensado que o ovo contém, e foi também visitadora no Hospital D. Manuel de Aguiar, em Leiria, dando apoio a necessitados que estavam internados.

Mantinha contactos regulares com o Governador Civil, Dr. Magalhães Pessoa, o qual, um dia lhe propôs que assumisse a obra da “Sopa dos Pobres”, numas instalações à Ponte dos Caniços. Com a colaboração da Ordem Terceira de S. Francisco, tomou a iniciativa a peito e, a breve prazo, iniciava-se a construção do Lar de S. Francisco que, aberto em 1972, aos poucos, assumiu a dimensão, física e assistencial que tem hoje. Foi a sua primeira e grande directora, no que foi coadjuvada pelo Sr. Luís António Roda, também desta cidade e então responsável pela Ordem Terceira. O seu nome foi justamente dado à rua em frente àquele Lar.

Foi ainda mentora do Bairro Social de S. Francisco, onde foram construídas casas para famílias muito necessitadas.

Carolina Ribeiro vivia apenas do rendimento de espaços alugados que tinha por baixo da sua casa, à Rua Comandante João Belo, chegando a empenhar-se algumas vezes. Para sobreviver, passou a receber professoras a quem alugava quartos durante o ano escolar.

Faleceu em Leiria, em sua casa, a 29 de Dezembro de 1984. Doou a sua casa à Ordem Terceira de S. Francisco e a sua biblioteca e do marido aos Franciscanos. Detinham, alegadamente, dois exemplares manuscritos de O Couseiro, tendo sido oferecido um à Câmara Municipal de Leiria.

Carolina Ribeiro, na segunda metade do século XX, foi, inquestionavelmente, uma figura de proa na cidade de Leiria e para além dela, preocupando-se com os mais desfavorecidos e contribuindo de forma muito expressiva para o bem-estar de inúmeras e anónimas pessoas que tinham nela uma verdadeira Mãe. Tomando do Evangelho que a caridade é o princípio e o fim de tudo, ela emprestou à Diocese esse exemplo de entrega que deixou os seus frutos e permanece eficaz no tempo e na nossa memória.

Elementos recolhidos por Carlos Fernandes

 


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