24 – Diocese de Leiria-Fátima: resenha histórica

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É dos inícios da nacionalidade a edificação do castelo e da primeira igreja de Leiria, a de Nossa Senhora da Pena, em 1147. Posteriormente, foram edificadas outras ermidas, igrejas e conventos e também algumas ordens religiosas se vão fixando, como foi o caso dos Franciscanos, em 1232, e dos Dominicanos (Mosteiro da Batalha), em 1388.

Desde o século XIII, é significativo o movimento de criação de instituições de assistência por toda a nação, como confrarias, albergarias, hospitais e gafarias. O mesmo se passa em Leiria, onde posteriormente surgiria a Santa Casa da Misericórdia (1544) e, recentemente, as Conferências de S. Vicente de Paulo, os centros sociais e a Cáritas Diocesana.

A exigência de tornar o apoio espiritual e pastoral mais próximo das pessoas leva à progressiva reorganização do serviço religioso. A partir da segunda década do século XVI, quando Leiria era uma vigararia do Convento de Santa Cruz de Coimbra, regista-se um crescente movimento de descentralização na administração paroquial, com a criação de capelanias em algumas igrejas da zona rural, com relativa autonomia, instalação de pia batismal, celebração da Missa nos dias de preceito e dos sacramentos, mantendo apenas uma ligação simbólica com a matriz.

 

Fundação e crescimento

É neste contexto que o rei D. João III pede ao Papa Paulo III a criação da Diocese de Leiria, argumentando que “é uma das notáveis vilas deste reino e de muita clerezia e povo” (teria cerca de 2.200 habitantes) e que nela deveria residir um prelado que a governasse. O pedido é satisfeito com a Bula “Pro excellenti apostolicae sedis”, datada de 22 de maio de 1545. É erigida a igreja de Santa Maria da Pena como catedral (passando depois para a igreja de S. Pedro, fora das muralhas) e a nova diocese é integrada na província eclesiástica de Lisboa, com 15 paróquias ou quase-paróquias: dentro da cidade, Santa Maria da Pena (a matriz), S. Pedro, S. Tiago, S. Estêvão e S. Martinho; fora da cidade, Batalha, Colmeias, Espite, Maceira, Monte Real, Pataias, Reguengo, S. Simão de Litém, Souto da Carpalhosa e Vermoil. O primeiro bispo é D. Frei Brás de Barros, que realizou um Sínodo Diocesano em 1549 e publicou as respetivas constituições. Foi também ele quem criou a nova freguesia de Santa Catarina da Serra (1546) e a quase-paróquia de Nossa Senhora da Gaiola, nas Cortes. Em 1585, o bispado seria ampliado com a integração das paróquias de São Vicente de Aljubarrota, Alvados, Arrimal, Seiça, Fátima, Freixianda, Juncal, Mendiga, Minde, Olival, Ourém, Porto de Mós (São João, São Pedro e Santa Maria) e Serro Ventoso.

O segundo bispo foi D. Frei Gaspar do Casal, grande teólogo e pregador que participou no Concílio de Trento. Foi ele que iniciou as obras na nova Sé, em 1563, e fundou, em 1577, o Convento de Santo Agostinho, que se viria a tornar no centro de ensino religioso mais notável da cidade.

Os bispos sucessores foram igualmente de alta craveira intelectual, como D. António Pinheiro (1579-1582) ou D. Pedro de Castilho (1583-1604), que viria a ser vice-rei de Portugal e inquisidor-mor. Foi este último quem realizou o segundo Sínodo Diocesano, em 1598, cujas 176 constituições seriam publicadas em 1601, fundou o Santuário de Nossa Senhora da Encarnação (1588-1600) e criou as paróquias de Monte Redondo (1589), Arrabal (1592) e Marinha Grande (1600).

Em 1614, foram anexadas à Diocese as paróquias de Nossa Senhora dos Prazeres de Aljubarrota e de Alpedriz, e o território viria a dividir-se em novas comunidades autónomas pelos anos seguintes: Alqueidão da Serra (1615), Amor (1630), Carvide (1632), Coimbrão (1636), Azóia, Barosa, Parceiros, Pousos, Alcaria e Regueira de Pontes (1713-1717), Mira de Aire (1720 ?), Rio de Couros (1728), Barreira (1738), Vieira (1740) e Milagres (1750). Depois desta data, seria preciso esperar pelo século XX para se voltar a assistir a um surto de novas divisões paroquiais.

 

Decadência e ressurgimento

Oitocentos afirmou-se como um período de grandes dificuldades na Diocese. Basta lembrar as nefastas Invasões Francesas, que dizimaram cerca de um terço da população (na cidade, a população de cerca de 3000 pessoas ficou reduzida a umas 150), ao mesmo tempo que saquearam e destruíram impiedosamente grande parte das infraestruturas religiosas (paço episcopal, mosteiros, templos; celeiros, pilhagens dos tesouros e alfaias litúrgicas).

Foi nesta época que, apesar de se ter revelado uma diocese extremamente estável administrativa e pastoralmente, Leiria não resistiria à política do Estado liberal português, acabando por ser extinta em 30 de setembro de 1881, sendo a bula de Leão XIII executada um ano depois.

Com a instauração da República, em 1910, e a célebre “Lei da Separação do Estado das Igrejas”, nova espoliação de património e perseguições atingem a extinta diocese, agora dividida por Lisboa e Coimbra. Algumas igrejas e o paço episcopal, por exemplo, são nesta altura transformados em quartéis militares ou ocupados por entidades estatais.

Mas os leirienses não baixaram os braços e foram tenazes lutadores pela restauração, que viria a ocorrer a 17 de Janeiro de 1918, pelo decreto “Quo vehementius” do Papa Bento XV. O primeiro bispo, D. José Alves Correia da Silva, entra em 1920 e inicia um novo período de ouro da história diocesana, começando por restabelecer as suas instituições e serviços pastorais. É ele quem realiza o III Sínodo Diocesano, em 1943.

Também em termos territoriais, a Diocese pós-restauração se foi reorganizando em novas paróquias: São Mamede da Serra (1920), Serra de Santo António (1922), Albergaria dos Doze (1923), Pedreiras (1924), Calvaria (1925), Urqueira (1940), Gondemaria (1940), Santa Eufémia, São Bento, Boavista e Alburitel (1946), Caxarias (1949), Carnide (1953), Ortigosa (1964), Casal dos Bernardos (1966), Bajouca (1972), Meirinhas (1986), Cercal, Matas, Bidoeira e Memória (1993). Em 1957, havia integrado a freguesia de Formigais, desanexada do patriarcado de Lisboa.

Na sequência do Concílio Vaticano II, assiste-se ao surgir de movimentos de espiritualidade e apostolado e à implementação de serviços diocesanos de dinamização e formação pastoral. O Congresso Diocesano de Leigos, em 1988, “foi um acontecimento memorável, que fez vibrar e rejuvenescer muitos membros do Povo de Deus”. Dele saiu a proposta de realização do IV Sínodo Diocesano, que D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva iria promover entre os anos de 1995 a 2002.

A partir deste sínodo, foi elaborado o projeto pastoral “Testemunhar Cristo, Fonte de Esperança”, que orientaria os anos de 2005 a 2011. A 25 de junho de 2006, entrou na Diocese o Bispo D. António Marto, que assume este projeto e o desenvolve conforme a sua visão pastoral. Seguir-se-á um Ano da Fé (2012-2013), um biénio centrado na Família (2013-2015) e outro em Nossa Senhora e no Centenário das Aparições de Fátima (2015-2017). O corrente ano de 2017-2018 é dedicado à celebração do Centenário da Restauração da Diocese.

 

Fátima

As Aparições de Fátima, ocorridas em 1917, merecem um capítulo especial, porquanto vieram revolucionar por completo esta história e marcar definitivamente o lugar da diocese no mapa religioso mundial. Graças a esse acontecimento, a Diocese recebe Nossa Senhora de Fátima como sua padroeira, em 1963, mantendo-se embora o já padroeiro Santo Agostinho. E, pela bula pontifícia “Qua pietate”, de 13 de maio de 1984, passará a chamar-se Diocese de Leiria-Fátima.

Fátima foi motivo para a visita dos Papas Paulo VI (1967), João Paulo II (1982, 1991 e 2000), Bento XVI (2010) e Francisco (2017). Este último veio canonizar as duas crianças videntes Francisco e Jacinta Marto, escrevendo nesse dia 13 de maio do Centenário das Aparições uma das páginas mais ilustres da história desta diocese.

Luís Miguel Ferraz

Fonte: Artigos de Saul António Gomes, P. Luciano Coelho Cristino e P. Jorge Guarda, neste portal.

 


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